segunda-feira, 2 de março de 2009

Depois da tempestade




O céu fechou-se em nuvens negras, relâmpagos iluminavam tudo. Começou a chover forte para a infelicidade de todos naquele vilarejo no Sul. Fazia 15 dias que chuvas torrenciais fora de época os castigavam. Elas vinham, mostravam todo seu rigor e lentamente cada pingo ia afinando, transformando a tormenta em uma garoa. Minutos depois tudo recomeçava. Parecia que o mundo acabaria em água novamente.

A família de seu M. observava assustada pela janela, a chuva implacável devastar seu cafezal florido. O riacho que passava os fundos da fazenda transbordou inundando o platô onde estava a plantação de trigo dos Wink. A força da correnteza levou galhos de árvores e animais mortos platô abaixo, chegando ao centro do vilarejo.

Os habitantes do vilarejo, em maior parte, agricultores ou pecuaristas, desesperados com essa maré de má sorte, só rezavam por suas vidas. Não adiantava pedir a Deus que poupasse suas lavouras e rebanhos, pois quase tudo já estava arruinado, inclusive o jardim de dona C. que ficava nos fundos da velha igreja. Lá do alto da torre, ela rezava pedindo a Deus que tivesse piedade daqueles que moravam na parte leste da cidade. Aquela altura, ruas e casas estavam debaixo d’agua. De lá, ela também via a agonia dos animais do setor de chácaras, tentando nadar até as colinas. Feria o coração vê-los morrer afogados, presos nas cercas de arame farpado.

Enquanto a chuva continuava seus estragos, G, o caçula do seu O, chorava de medo. Ele tinha a mesma preocupação dos pais: estava ocorrendo muitos deslizamentos de terra nas colinas próximas dalí, justamente onde moravam seus avós.

Naquela mesma noite, muitos atravessaram ruas alagadas e verdadeiros lamaçais para chegar ao casarão do velho senhor M. Lá todos poderiam ficar abrigados. Todo esforço valeria à pena para fazer uma corrente de orações, o que já estava marcado.

Aquelas preces não foram em vão. No dia seguinte, a chuva foi mais branda. E o outro dia amanheceu ensolarado e todos puderam sair para tentar reparar os danos.

Uma semana depois que o pesadelo acabara, tudo parecia maravilhoso. Todos contemplavam a beleza do sol que brilhava sobre a cidade. Seus raios refletidos nas gotas de orvalho nas folhas das árvores, lembravam um arco-íris. Eles, como se fosse a primeira vez, olhavam para o céu azul claro, com nuvens que mais pareciam flocos de algodão. Enquanto isso nas colinas, o menino G. corria atrás dos pássaros teimosos que rodeavam a casa dos avós.

Dona C. plantou um novo jardim para receber no pátio da velha igreja, a comunidade. Lá fizerem uma festa para louvar e agradecer a Deus por tudo de bom e de belo que conseguiram. Eles estavam bem e felizes por ter a chance de recomeçar uma nova vida naquele vilarejo, que mesmo com aquelas lembranças tristes, ainda era belo, ainda era o seus lares.

Às vítimas da ação de chuvas. Que todos tenham um belo recomeço.