quarta-feira, 24 de junho de 2009

Auê na Floresta


No reino das Selvas Verdejantes do Leste, ouve-se a seguinte notícia: " O Rei Leão escolherá seu mensageiro-mor entre os animais das floresta. Aquele que apresentar o melhor plano será o vencedor".

Minutos Depois, foi aquele auê na floresta. Os bichos alvoroçados expunham seu dote. A tartaruga quis dar uma de sábia:

__ A pressa, meus amigos, é a inimiga da perfeição! Por isso devagar se vai ao longe! Eu com a minha paciência, sou a melhor para levar todas as mensagens importantes ao nosso Rei. Eu sim, sou a mais eficiente.

De repente se manifestou a lebre:

__ Estamos nos tempos modernos. Hoje, velocidade na informação é fundamental. Eu sou a melhor mensageira disponível no mercado. Não é à toa que sou conhecida como "sedex da floresta".

A tartaruga invejosa retrocou:

__ É melhor ir devagar que o santo é de barro! O mundo não foi feito em um só dia...A tartaruga mal concluiu seu pensamento e o beija-flor já se gabava:

__ Ora, que tolice! De nada adianta a lentidão ou rapidez aqui na selva, o mais importante é saber driblar os obstáculos. Vocês já viram quantos predadores temos aqui? O melhor pe protejer as informações, sabe, definir pontos estratégicos por onde passar...

A noite caiu e a bicharada continuava a discussão. Pobre Rei Leão! Quem será que ele escolheu?
Dilema

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Historinha


Uma amiga decidiu contar-me uma história, sobre o dia em que fez uma leve retrospectiva de seu último ano. Concluiu ter vivido um grande misto de emoções: incerteza, felicidade, realização, frustração, euforia e arrependimento. Tudo no embalo do que imaginou ser uma montanha-russa, ainda em movimento. Naquele dia relaxou, lembrou de histórias contadas por outro amigo, algumas imbecis e outras profundamente filosóficas, como uma tal sobre a vida ser um cenóide, de modo que as oscilações são fatais/inevitáveis, a única coisa possível a fazer é aproveitar o máximo o ápice porque o ponto mais baixo é a próxima parada na certa!
Veio o momento de reflexão. Preocupou-se, começou a pensar em quando ela havia começado a se afastar de si mesma. Decidiu que iria meditar, fazer yoga e até um novo corte de cabelo. Faria essas ou quaisquer outras peripécias em mais uma vã tentativa de entender o sentido da vida. Depois relaxou.
Recostou a cabeça no travesseiro, naquela noite infame de insônia, torcendo pra acordar pela manhã com o estalo de uma tremenda epifania.
Amanheceu, bebeu toda a xícara de seu preferido café meio amargo, vestiu-se, calçou os sapatos e saiu.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Depois da tempestade




O céu fechou-se em nuvens negras, relâmpagos iluminavam tudo. Começou a chover forte para a infelicidade de todos naquele vilarejo no Sul. Fazia 15 dias que chuvas torrenciais fora de época os castigavam. Elas vinham, mostravam todo seu rigor e lentamente cada pingo ia afinando, transformando a tormenta em uma garoa. Minutos depois tudo recomeçava. Parecia que o mundo acabaria em água novamente.

A família de seu M. observava assustada pela janela, a chuva implacável devastar seu cafezal florido. O riacho que passava os fundos da fazenda transbordou inundando o platô onde estava a plantação de trigo dos Wink. A força da correnteza levou galhos de árvores e animais mortos platô abaixo, chegando ao centro do vilarejo.

Os habitantes do vilarejo, em maior parte, agricultores ou pecuaristas, desesperados com essa maré de má sorte, só rezavam por suas vidas. Não adiantava pedir a Deus que poupasse suas lavouras e rebanhos, pois quase tudo já estava arruinado, inclusive o jardim de dona C. que ficava nos fundos da velha igreja. Lá do alto da torre, ela rezava pedindo a Deus que tivesse piedade daqueles que moravam na parte leste da cidade. Aquela altura, ruas e casas estavam debaixo d’agua. De lá, ela também via a agonia dos animais do setor de chácaras, tentando nadar até as colinas. Feria o coração vê-los morrer afogados, presos nas cercas de arame farpado.

Enquanto a chuva continuava seus estragos, G, o caçula do seu O, chorava de medo. Ele tinha a mesma preocupação dos pais: estava ocorrendo muitos deslizamentos de terra nas colinas próximas dalí, justamente onde moravam seus avós.

Naquela mesma noite, muitos atravessaram ruas alagadas e verdadeiros lamaçais para chegar ao casarão do velho senhor M. Lá todos poderiam ficar abrigados. Todo esforço valeria à pena para fazer uma corrente de orações, o que já estava marcado.

Aquelas preces não foram em vão. No dia seguinte, a chuva foi mais branda. E o outro dia amanheceu ensolarado e todos puderam sair para tentar reparar os danos.

Uma semana depois que o pesadelo acabara, tudo parecia maravilhoso. Todos contemplavam a beleza do sol que brilhava sobre a cidade. Seus raios refletidos nas gotas de orvalho nas folhas das árvores, lembravam um arco-íris. Eles, como se fosse a primeira vez, olhavam para o céu azul claro, com nuvens que mais pareciam flocos de algodão. Enquanto isso nas colinas, o menino G. corria atrás dos pássaros teimosos que rodeavam a casa dos avós.

Dona C. plantou um novo jardim para receber no pátio da velha igreja, a comunidade. Lá fizerem uma festa para louvar e agradecer a Deus por tudo de bom e de belo que conseguiram. Eles estavam bem e felizes por ter a chance de recomeçar uma nova vida naquele vilarejo, que mesmo com aquelas lembranças tristes, ainda era belo, ainda era o seus lares.

Às vítimas da ação de chuvas. Que todos tenham um belo recomeço.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A casa onde nasci - À amiga Muriel


Para qualquer um que passe pela rua é só mais uma casa comum do bairro, não para mim. Ela é um lugar de aconchego e calor.

É uma casa em construção (desde 1985) que abriga minha família. Aqui vive meu pai, o seu J, um serralheiro que sustenta a família; dona G, típica dona-de-casa; minha irmã preguiçosa M; e eu. Ah! e nossos dois cachorros, considerados por mim membros da família.

Quem olha, vê: não é uma casa muito bonita. As paredes apenas com reboco, sem cor, me faz lembrar que nossa condição financeira não anda nada bem, um estranho pensaria que somos uns coitados na vida. Mas não é bem assim.

Ao entrar na casa, percebe-se: ela é até confortável, duas salas de estar, quartos espaçosos, duas TVs, dois banheiros, dois cães...Mas o toque especial são os móveis com detalhes feitos pelo meu pai, que combinavam com o ambiente simples daquela nossa casa.

Lá fora temos um quintal grande com árvores que oferecem sombra e frutas. Assim, durante todo o ano, podíamos saborear mangas, laranjas, limões, cajus, jacas e amoras.

Se minha casa fosse um castelo, meu quarto seria meu trono. Ele é minha parte preferida da casa. É estranho pensar que no mundo todo, há um lugar pequeno, de mais ou menos 4m2 que seja só meu e que lá eu me sinta tão à vontade. Lá eu mando e desmando e apesar da bagunça, dá para descansar de verdade.

De reforma em reforma, nossa casa vai se transformando na casa dos sonhos de minha mãe. E dos nossos também. Afinal. Não há lugar como o nosso lar.

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Hoje, só restam estas lembranças. As mais doces de uma infância, como gostaria de saber se teria fim. Aquela casa ainda mora no meu coração, mas sei que nunca mais vou pisar lá.

Muriel, está é para você, espero que goste querida amiga.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amar e Sofrer


Quem sobe no telhado da própria casa para observar o luar e as estrelas, pode acabar vendo o que não esperava ver. Certas coisas que acontecem na vizinhança podem chamar sua atenção.
Do lado direito da rua através da janela, eu via toda a felicidade de Soraya (não sei o seu nome, então decidi chamá-la assim). Radiante às vésperas do casamento, empenhava-se nos preparativos da cerimônia. Ambas as famílias, do noivo e da noiva, ajudavam e partilhavam da mesma alegria na união de seus filhos.
A vista do telhado favorecia-me ver muitas casas, entre elas a de Anabeth (também decidir chamá-la assim), que naquela mesma noite, deitada em sua cama esvaia-se em lágrimas. O dia seguinte, o 12 de maio de 2008, prometia ser o mais triste de sua vida. Mas como alguém poderia saber? Talvez apenas eu soubesse a verdade. Mesmo à distância, eu via o brilho em seu olhar quando Luis a acompanhava até o portão.
Eles eram bons amigos e passavam algum tempo juntos. Será que ele nunca percebeu nada? Ela provavelmente escondia bem a paixão que nutria por ele. Por algum motivo não foi capaz de declarar-se ou se quer dar um sinal do amor que sentia. Talvez isso pudesse acabar com a angústia que carregava em seu peito.
Sei que ele também sentia algo por ela, talvez amor. Contudo, como apenas uma moça no telhado, achei melhor não bancar o cupido ou a xereta e ficar na minha. O que não faz sentido é que se ela a amava, por que estava noivo de Soraya? Estaria ela grávida? Ou era por amor? Quem sabe?!
O grande dia chegou e tudo estava impecável. A igreja estava como nos contos de fadas. Cheia de arranjos florais, imagens de anjos segurando velas acessas e havia em cada lado dos bancos, um longo véu branco com pedrinhas brilhantes. E na passagem central, um tapete vermelho pelo qual a noiva, como uma princesa, faria sua entrada triunfal.Os convidados estavam no interior da igreja quando, depois de chegar uma limusine preta, viram entrar a noiva em um majestoso vestido branco bordado à mão. Ela trazia em sua cabeça um arranjo de rosas naturais e uma longa grinalda. Ao som da marcha nupcial, ela caminhava esplendorosa para seu noivo. Tudo isso foi demais para Anabeth. A dor que dilacerava seu coração a fez sair correndo da igreja. Por um momento a cerimônia foi interrompida, quando todos os convidados com olhares interrogativos, na porta da igreja viram a moça entrar no carro, bater a porta e sair acelerando.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

À amiga fera do rock




Queria falar de uma amiga que conheci nos tempos de colégio, 2000. Alta, cabelos castanhos claros e óculos. Isto seria tudo que pude perceber? Quando olho com os olhos que vêem, posso ver através de uma simples imagem e conhecer muito uma pessoa. Contudo, poderia enxergar seu interior? Seria preciso acompanhar e dividir dias para saber que sua vida era conturbada.



Dizem que a melhor maneira de se conhecer um artista é através de sua obra. Sim, era uma artista. De fato, ela foi uma grande música do rock e de sua banda de garagem daquela pequena casa e, apesar de branca, cantava blues como só uma negra faria. Havia muito de agressividade e revolta em algumas de suas músicas. Ela, então ativa e contestadora, denunciava a corrupção na política e pregava o fim das injustiças sociais.



Enfrentara fases de profundas crises de depressão. Porém se algumas de suas canções são amargas, outras são suaves, quase como canções de ninar. E era essa mistura de amargor e docilidade que a tornou tão especial. Mais do que isso, ela era uma poeta e poetas precisam de emoções ao extremo. Era o que ela tinha em abundância e vivia intensamente. Toda essa intensidade tomara tanto ela quanto a sua obra tomaria os vivos.



Era homossexual assumida. Sofreu todo o peso do preconceito arraigado na sociedade local. Nunca subiu ao estrelato ou brilhou. Mesmo com todo o esplendor da juventude, partiu, não está mais entre nós. Todavia nos deixou sua arte (à mim e a quem quer que seja), na qual ainda hoje, ela em essência verdadeiramente vive.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Um susto divertido


Um dos momentos de minha vida que ficará gravado em minha memória aconteceu naquele novembro de 1996, quando minhas amigas e eu aprontamos mais uma de nossas travessuras.

Ao sair da escola, fomos ao cemitério como sempre fazíamos. Nós sentávamos nas tumbas para falar das coisas da vida. A nosso ver, isso não era nada macabro. Pode parecer bizarro. Mas o cemitério exercia uma certa atração sobre nós.

A M. havia perdido seu namorado em um acidente de caminhão fazia pouco tempo. Eu estava em uma fase de profunda filosofia em minha frustada tentativa de compreender o sentido da vida, e a S., não sei porque ia lá. Mas ela sempre ia.

Naquele dia algo diferente aconteceu. Lembro-me de ter andado por uma parte do cemitério onde não havia cruzes nos túmulos. Pisei em terra fofa. De repente estava com uma perna dentro de uma cova e afundando nela. Minhas amigas riam muito e nem podiam ajudar-me a sair daquele sufoco. O medo impulsionou-me a sair fora dalí.

Nossas aventuras pelas fazendas e cemitérios acabaram e hoje quando nos encontramos, sempre falamos sobre elas, sem esquecer de minha precoce jornada ao fundo da cova.