sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A casa onde nasci - À amiga Muriel


Para qualquer um que passe pela rua é só mais uma casa comum do bairro, não para mim. Ela é um lugar de aconchego e calor.

É uma casa em construção (desde 1985) que abriga minha família. Aqui vive meu pai, o seu J, um serralheiro que sustenta a família; dona G, típica dona-de-casa; minha irmã preguiçosa M; e eu. Ah! e nossos dois cachorros, considerados por mim membros da família.

Quem olha, vê: não é uma casa muito bonita. As paredes apenas com reboco, sem cor, me faz lembrar que nossa condição financeira não anda nada bem, um estranho pensaria que somos uns coitados na vida. Mas não é bem assim.

Ao entrar na casa, percebe-se: ela é até confortável, duas salas de estar, quartos espaçosos, duas TVs, dois banheiros, dois cães...Mas o toque especial são os móveis com detalhes feitos pelo meu pai, que combinavam com o ambiente simples daquela nossa casa.

Lá fora temos um quintal grande com árvores que oferecem sombra e frutas. Assim, durante todo o ano, podíamos saborear mangas, laranjas, limões, cajus, jacas e amoras.

Se minha casa fosse um castelo, meu quarto seria meu trono. Ele é minha parte preferida da casa. É estranho pensar que no mundo todo, há um lugar pequeno, de mais ou menos 4m2 que seja só meu e que lá eu me sinta tão à vontade. Lá eu mando e desmando e apesar da bagunça, dá para descansar de verdade.

De reforma em reforma, nossa casa vai se transformando na casa dos sonhos de minha mãe. E dos nossos também. Afinal. Não há lugar como o nosso lar.

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Hoje, só restam estas lembranças. As mais doces de uma infância, como gostaria de saber se teria fim. Aquela casa ainda mora no meu coração, mas sei que nunca mais vou pisar lá.

Muriel, está é para você, espero que goste querida amiga.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amar e Sofrer


Quem sobe no telhado da própria casa para observar o luar e as estrelas, pode acabar vendo o que não esperava ver. Certas coisas que acontecem na vizinhança podem chamar sua atenção.
Do lado direito da rua através da janela, eu via toda a felicidade de Soraya (não sei o seu nome, então decidi chamá-la assim). Radiante às vésperas do casamento, empenhava-se nos preparativos da cerimônia. Ambas as famílias, do noivo e da noiva, ajudavam e partilhavam da mesma alegria na união de seus filhos.
A vista do telhado favorecia-me ver muitas casas, entre elas a de Anabeth (também decidir chamá-la assim), que naquela mesma noite, deitada em sua cama esvaia-se em lágrimas. O dia seguinte, o 12 de maio de 2008, prometia ser o mais triste de sua vida. Mas como alguém poderia saber? Talvez apenas eu soubesse a verdade. Mesmo à distância, eu via o brilho em seu olhar quando Luis a acompanhava até o portão.
Eles eram bons amigos e passavam algum tempo juntos. Será que ele nunca percebeu nada? Ela provavelmente escondia bem a paixão que nutria por ele. Por algum motivo não foi capaz de declarar-se ou se quer dar um sinal do amor que sentia. Talvez isso pudesse acabar com a angústia que carregava em seu peito.
Sei que ele também sentia algo por ela, talvez amor. Contudo, como apenas uma moça no telhado, achei melhor não bancar o cupido ou a xereta e ficar na minha. O que não faz sentido é que se ela a amava, por que estava noivo de Soraya? Estaria ela grávida? Ou era por amor? Quem sabe?!
O grande dia chegou e tudo estava impecável. A igreja estava como nos contos de fadas. Cheia de arranjos florais, imagens de anjos segurando velas acessas e havia em cada lado dos bancos, um longo véu branco com pedrinhas brilhantes. E na passagem central, um tapete vermelho pelo qual a noiva, como uma princesa, faria sua entrada triunfal.Os convidados estavam no interior da igreja quando, depois de chegar uma limusine preta, viram entrar a noiva em um majestoso vestido branco bordado à mão. Ela trazia em sua cabeça um arranjo de rosas naturais e uma longa grinalda. Ao som da marcha nupcial, ela caminhava esplendorosa para seu noivo. Tudo isso foi demais para Anabeth. A dor que dilacerava seu coração a fez sair correndo da igreja. Por um momento a cerimônia foi interrompida, quando todos os convidados com olhares interrogativos, na porta da igreja viram a moça entrar no carro, bater a porta e sair acelerando.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

À amiga fera do rock




Queria falar de uma amiga que conheci nos tempos de colégio, 2000. Alta, cabelos castanhos claros e óculos. Isto seria tudo que pude perceber? Quando olho com os olhos que vêem, posso ver através de uma simples imagem e conhecer muito uma pessoa. Contudo, poderia enxergar seu interior? Seria preciso acompanhar e dividir dias para saber que sua vida era conturbada.



Dizem que a melhor maneira de se conhecer um artista é através de sua obra. Sim, era uma artista. De fato, ela foi uma grande música do rock e de sua banda de garagem daquela pequena casa e, apesar de branca, cantava blues como só uma negra faria. Havia muito de agressividade e revolta em algumas de suas músicas. Ela, então ativa e contestadora, denunciava a corrupção na política e pregava o fim das injustiças sociais.



Enfrentara fases de profundas crises de depressão. Porém se algumas de suas canções são amargas, outras são suaves, quase como canções de ninar. E era essa mistura de amargor e docilidade que a tornou tão especial. Mais do que isso, ela era uma poeta e poetas precisam de emoções ao extremo. Era o que ela tinha em abundância e vivia intensamente. Toda essa intensidade tomara tanto ela quanto a sua obra tomaria os vivos.



Era homossexual assumida. Sofreu todo o peso do preconceito arraigado na sociedade local. Nunca subiu ao estrelato ou brilhou. Mesmo com todo o esplendor da juventude, partiu, não está mais entre nós. Todavia nos deixou sua arte (à mim e a quem quer que seja), na qual ainda hoje, ela em essência verdadeiramente vive.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Um susto divertido


Um dos momentos de minha vida que ficará gravado em minha memória aconteceu naquele novembro de 1996, quando minhas amigas e eu aprontamos mais uma de nossas travessuras.

Ao sair da escola, fomos ao cemitério como sempre fazíamos. Nós sentávamos nas tumbas para falar das coisas da vida. A nosso ver, isso não era nada macabro. Pode parecer bizarro. Mas o cemitério exercia uma certa atração sobre nós.

A M. havia perdido seu namorado em um acidente de caminhão fazia pouco tempo. Eu estava em uma fase de profunda filosofia em minha frustada tentativa de compreender o sentido da vida, e a S., não sei porque ia lá. Mas ela sempre ia.

Naquele dia algo diferente aconteceu. Lembro-me de ter andado por uma parte do cemitério onde não havia cruzes nos túmulos. Pisei em terra fofa. De repente estava com uma perna dentro de uma cova e afundando nela. Minhas amigas riam muito e nem podiam ajudar-me a sair daquele sufoco. O medo impulsionou-me a sair fora dalí.

Nossas aventuras pelas fazendas e cemitérios acabaram e hoje quando nos encontramos, sempre falamos sobre elas, sem esquecer de minha precoce jornada ao fundo da cova.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Querido Superamor


Você é meu herói favorito. Você é o herói mais importante, sabia? Mas confesso que estou triste com você. A verdade é que você anda um pouco preguiçoso. Um pouco não, muito. Chego até pensar que você se esqueceu da sua missão aqui na Terra.

Todos os dias quando ligo a TV, vejo tanta coisa errada acontecer! Já não aguento ouvir falar de sequestros e assassinatos. Ah, e tem o problema do tráfico de drogas, a corrupção, disputas judiciais, a violência... Esse problemas não estão acontecendo só na televisão. Acontecem aqui no meu bairro, na minha rua, lá onde minha tia mora e em todos os lugares onde vou.

Olha, Superamor, não me leve a mal. Fiz uma lista das coisas que você tem feito e outra com as que seu arquiinimigo, o Desamor faz. Adivinha qual foi a maior?

Quando você vai começar a fazer o seu trabalho? Quando você vai reacender suas chamas nos corações dos homens? Você poderia fazer a humanidade ficar mais humana e mostrar-lhes que o mundo pode ser um lugar melhor quando existe a paz.

Gostaria de continuar acreditando em você e não ter que escrever para outro Super-herói.

Fico por aqui esperando ansiosa por sua resposta. Não demora, hein!?

Abraços

Carinhosamente,